A Lógica do Metabolismo
Quando nos referimos a integração metabólica estamos associando os vários sistemas envolvidos no metabolismo energético do corpo vivo, no caso aqui, os humanos, em diferentes situações. Para cada tipo de nutriente utilizado como fonte de energia envolvemos enzimas e hormônios especializados que atuam em conjunto para manutenção adequada de nosso organismo, seja em estado alimentado, quando o que foi ingerido está sendo utilizado, seja em estado não alimentado, onde serão utilizados os estoques previamente acumulados quando em repouso o que ocorre em dois níveis: regularizado pelos hormônios e programados por mecanismos intracelulares.
Vale destacar o papel das enzimas nesse mecanismo. Tratam-se de catalizadores específicos que aceleram o transporte energético sem se degradarem, possibilitando sua utilização por diversas vezes. Cada via possui suas enzimas características que atuarão no metabolismo e serão acionadas a partir da prevalência da insulina ou do glucagon, hormônios essenciais no processo metabólico, mas antagônicos em sua atuação.
O fígado é o principal órgão envolvido no metabolismo energético, porém a insulina se apresenta como o hormônio determinante nessa integração. Em período absortivo ou pós-prandial ela promove os estoques e em jejum o glucagon provoca a produção de glicogênio ou corpos cetônicos para garantir a energia necessária a partir dos lipídios estocados, mas sua sinalização depende essencialmente da presença de insulina no organismo, a qual é aumentada no momento pós-prandial e baixa quando em jejum.
Nesse raciocínio, sabendo que: o período absortivo ou pós-prandial é de cerca de 4 horas, que nesse período ocorre a prevalência da atuação do hormônio insulina, que a presença da insulina inibe a secreção e ação do hormônio glucagon; há uma lógica que nos conduz a pensar que forçar a produção de insulina torna nosso organismo um acumulador contumaz sem tempo e oportunidade de gastar o que estocou.
A principal orientação nutricional vigente é a de que se alimentar de 3 em 3 horas faz bem para o metabolismo e evita a ingestão de calorias em excesso, evitando o ganho de peso. Mas, nesse sentido, estaríamos estimulando apenas o sistema de acumulação de gordura, inclusive no fígado nesse caso, prejudicando seu próprio funcionamento. Ainda mais que as recomendações são para que a maior quantidade das calorias ingeridas seja de carboidratos, macronutriente que mais demanda produção de insulina, tornando sua presença constante no processo metabólico, ao ponto, por muitas vezes, do corpo criar resistência à sua ação como defesa homeostática.
O tecido muscular não dispõe de enzimas capazes de transportar o glicogênio ali armazenado para outros tecidos, seus estoques servem apenas para produção de energia para consumo próprio. Mas como podem utilizar substratos diferentes como fonte de energia, seus estoques podem ser mantidos para ocasiões importantes, principalmente se o corpo está acostumado a utilizar corpos cetônicos como principal fonte de energia, em casos de jejum prolongado ou dietas com baixa porcentagem de carboidratos. Mesmo o cérebro pode utilizar corpos cetônicos como principal fonte energética e a sua necessidade de glicose pode ser servida pela produção hepática, desde que a insulina “permita”.
Então, intercalar períodos absortivos com períodos de jejum parece ser uma opção saudável para o funcionamento do corpo e não a alimentação ordinária feita de 3 em 3 horas. Alimentar-se novamente antes mesmo da refeição anterior ter terminado seu ciclo metabólico provoca nova dose de insulina no organismo e antes mesmo da dose anterior ter sido dissipada uma nova sinalização é disparada e o processo de estoque torna-se perene. Além de limitar o organismo ao funcionamento dependente apenas de glicose e sintomas de abstinência apareçam quando a hora exata da refeição não é respeitada.
Assim, o conhecimento sobre o funcionamento da integração metabólica nos leva a hipótese de que as diretrizes nutricionais vigentes, principalmente quando ganha domínio social, sem a condução de um/uma nutricionista, pode aumentar o problema de obesidade, já considerado epidêmico. Não apenas a falta de atividade física ou o consumo excessivo de ultraprocessados, mas a frequência em que nos alimentamos deve ser revisada para a melhora de nosso metabolismo. Permitindo que não apenas a insulina esteja presente no organismo, mas também outros hormônios tão essenciais quanto para a homeostase, todavia disparam apenas quando as taxas de insulina estão baixas.