E o Fígado?
Ao iniciarmos nossos estudos sobre nutrição e metabolismo logo cedo percebemos o papel essencial que o fígado desempenha no processo. Dessa forma, é necessário acompanha-lo de perto, não só com uma intervenção alimentar que facilite seu trabalho, mas também a partir de exames laboratoriais que apontem sua saúde e preservação de sua função. Logo, para não errar ao analisar esses exames é necessário saber que medicações podem alterar os marcadores examinados a fim de não errar na conduta.
O fígado é um órgão que possui papel imprescindível no manejo energético e estrutural dos corpos vivos. Sua função abrange desde metabolismo de macronutrientes, processamento de fármacos e hormônios até fagocitose e armazenamento de vitaminas. Ele possui, portanto, atividades endócrinas e exócrinas, com a secreção de hormônios e da bile, indispensável para digerirmos gorduras, que é um macronutriente necessário para a formação e bom funcionamento de diversos processos em nosso organismo.
No caso de uma anomalia hepática a filtragem e armazenamento de sangue ficam prejudicadas. Também, entre as atividades afetadas estariam a realização de desintoxicação, síntese de proteína, produção bioquímica e armazenamento de nutrientes, além de formação de fatores de coagulação, metabolismo de carboidratos, de proteínas, de gorduras, de hormônios e de outros produtos químicos e armazenamento de ferro que é essencial na formação sanguínea e transporte de oxigênio.
Entendendo sua importância, o profissional de saúde ao realizar sua mediação precisa sempre ficar atento em cuidar para que o fígado seja bem tratado e tenha suas diversas atividades facilitadas. No caso do nutricionista, não apenas a alimentação deve ser o foco, mas também o acompanhamento de sua performance, seja por exames laboratoriais, onde verificamos os marcadores que podem indicar problemas ou funcionamento adequado e ainda sinais e sintomas que podem apontar algum distúrbio que não foram mostrados nos exames.
Nesse contexto, é preciso saber quais drogas estão sendo utilizadas pela pessoa cuja intervenção será realizada. Muitas substâncias interferem nos marcadores examinados e ainda na realização das tarefas do fígado. Então, lidar com o fígado além de importante é complexo e requer extenso conhecimento sobre sua histologia, anatomia, fisiologia, seu papel no metabolismo e as doenças que podem acometê-lo e quais as consequências advindas da enfermidade.
Existem alguns exames realizados em laboratório para verificar a saúde do fígado e/ou detectar previamente um possível problema. Para tanto, há valores referenciais que servem como parâmetro de indicação da saúde hepática, valores esses que são baseados numa estatística social que é utilizada para comparar com o número encontrado no paciente examinado. Porém, como dito, é uma taxa estatística e pode vaiar de um laboratório para outro, assim não deve ser o único parâmetro a ser levado em consideração para avaliar um exame assertivamente.
Vale apontar aqui uma preocupação que devemos ter em conta no que diz respeito aos parâmetros em voga devido a maneira que nos alimentamos e vivemos. As taxas referenciais dos exames laboratoriais parecem se alterar para se adequar à forma equivocada que levamos nosso estilo de vida e as referências levam em consideração mecanismos ou associações que não estão bem estudadas de forma randomizada e passa a apontar a necessidade de prescrição medicamentosa para adequar o indivíduo às novas referências. Assim, o analista que avalia o exame precisa de vários parâmetros para fechar um diagnóstico assertivo sobre a situação do paciente.
Tal preocupação deve ser estendida para a prescrição de medicamentos, pois, ao que parece, a grande maioria visa apenas corrigir o sintoma ou aquela taxa referencial, sem tratar a causa propriamente dita. Dessa forma, as doses das substâncias costumam ser aumentadas a cada consulta e mesmo outras drogas acrescentadas e tal ação pode piorar não só os exames laboratoriais, mas também o funcionamento do fígado e, por consequência, o bom desempenho de nosso metabolismo e mesmo o processamento de fármacos.
O foco, da parte nutricional pelo menos, deve ser antes a mudança no estilo de vida para que tais medicamentos tenham suas doses diminuídas ou mesmo suspensas. No entanto, é bem normal que o paciente chegue ao nutricionista já diagnosticado com uma doença e medicado para os sintomas dela decorrente, logo, entender a interferência medicamentosa nos dados apurados em laboratório deve também fazer parte do rol de conhecimento desse profissional para que a intervenção possa acompanhar eficazmente a melhora do indivíduo.
A conduta nutricional deve ser individualizada para que o médico realize a desprescrição desses medicamentos ou mesmo diminua suas doses a fim de que a interferência dos fármacos nos exames seja cessada e os dados possam ser mais fidedignos. Pois os remédios, ao alterar os biomarcadores, pode não só mascarar o quadro real do paciente como também apontar para a existência de uma doença que não está instalada de fato. E isso pode conduzir aos profissionais de saúde que assistem esse paciente a escolher uma abordagem equivocada e, por consequência, a adoção de uma intervenção que não resolva o problema que o fez buscar ajuda.
Portanto, é sabido que algumas substâncias químicas alteram o resultado de biomarcadores da função hepática e conhecer a presença delas no organismo e entender sua interação é fundamental para adoção de metodologia proporcional. Não apenas o médico ou o laboratório precisa ter esse saber, mas todo e qualquer profissional de saúde que interaja com o paciente e deseje a restauração de sua saúde. Assim, o estudo contínuo deve fazer parte da rotina desses profissionais, bem como a atualização dos novos fármacos que surgem ordinariamente para atender às necessidades crescente no tratamento das diversas doenças que acometem os seres humanos.