Geração de Energia
Os humanos nascem com a capacidade de metabolizar carboidratos, lipídios e aminoácidos para a produção da energia necessária para todas as atividades realizadas por nosso corpo. Nosso sistema consegue se adaptar às condições apresentadas a fim de manejar eficazmente tal metabolismo, seja quando estamos em estado alimentado ou em jejum, seja em condições com boa disponibilidade de oxigênio ou não e ainda de acordo com o tipo de prevalência de macronutrientes que dispomos na dieta. No entanto, é possível nos tornamos mais eficazes ou ineficientes nessa administração metabólica.
Da forma como é preconizado hoje, por influencers e mesmo médicos e até nutricionista, nossa alimentação incessante e com pequenos intervalos entre uma refeição e outra, está atrofiando nosso metabolismo. As diretrizes alimentares pregam um consumo mínimo de 55% de todas as calorias consumidas oriundas de carboidratos e a escolhas dessa fonte está quase sempre interrelacionada com produtos alimentícios processados ou ultraprocessados, com farinhas refinadas e alto teor de amido (carboidrato simples) e gordura facilmente degradada e inflamatória, que o corpo não consegue lidar de maneira competente.
Neste contexto, estamos sempre precisando nos alimentar, e com carboidratos, pois tornamo-nos dependente apenas do alimento ingerido para produção de energia. Uma energia que dura pouco tempo e tem a fadiga como consequência posterior. Ativamos apenas as enzimas capazes de agir sobre essa fonte e não acessamos nossos estoques energéticos, previamente armazenados, ou alternamos a via metabólica que somos capazes de realizar por natureza. Forçando-nos a ingerir altas doses de carboidratos simples durante uma atividade física no intuito de poupar os estoques de glicogênio do organismo, mesmo quando estamos com sobrepeso.
Possuímos, no entanto, a capacidade de utilizar não apenas nossos estoques de glicogênio, mas também nossa gordura corporal para geração de energia durante a atividade física. A qual, vale dizer, produz mais que o dobro de caloria no mesmo grama disponível. E um treinamento adequado consegue melhorar tal habilidade. Passamos daí a poupar o glicogênio muscular, aumentamos a eficácia no consumo de ácido lático e toleramos por mais tempo a zona anaeróbica do esforço. Treinamento esse que envolve não apenas planejamento de melhora física, mas também nutricional.
A eficiência que podemos alcançar é de atingir um estágio onde utilizamos apenas corpos cetônicos durante o exercício, forma natural de combustível produzido pelo fígado, poupando o glicogênio para esforços extremos e conseguindo repô-los a partir de nossa própria gordura corporal. O que nos leva a suportar muito mais tempo em atividade sem fatigar. Mas, para isso, precisamos recuperar tal capacidade que perdemos quando passamos a nos alimentar de três em três horas e consumir carboidratos antes de qualquer atividade física, mesmo com meia hora de duração.
Para termos boa performance durante a prática de atividade física precisamos ter ativas as ferramentas capazes de manejar nossas duas vias metabólicas, a aeróbia e a anaeróbica. O conhecimento da Bioquímica nos ajuda a entender que atrofiar qualquer umas dessas vias prejudicará nossa regulação metabólica e os ajustes necessários para lidarmos com as condições do ambiente ou disponibilidade de alimento. Assim, saber como o organismo aciona cada via, a velocidade de ação de cada uma delas, quais gatilhos são acionados em caso de emergência e, principalmente, o que fazer para não prejudicar esse manejo natural é fundamental para uma eficaz intervenção.
Nossas células são hábeis em gerar, armazenar e utilizar energia para realizar os trabalhos necessários para um bom desempenho na prática esportiva. O treinamento nos torna mais eficientes nessa atividade, mas a ignorância sobre os mecanismos de geração de ATP está atrapalhando sua eficiência. E as intervenções em voga estão nos tornando dependente de uma única via de síntese dessa molécula. Impedindo nossa capacidade de adaptação ficamos mais vulneráveis e dependente sempre de um ambiente propício para aquela via a qual estamos treinando e desenvolvendo, enquanto as demais ficam dormentes e atrofiadas.
Desse modo, podemos inferir que a tentativa de tornamos os seres humanos mais eficazes no esporte pode atrapalhar o desenvolvimento de seu potencial caso essa intervenção não contemple os mecanismos explicado pela bioquímica nutricional de adaptação celular para a produção e utilização de energia. Pois, pelo discutido acima, entendemos que estimular apenas uma das possibilidades de síntese de ATP atrofiará todas as outras e, ao contrário do que pretende a intervenção, seremos diminuídos e dependente das condições ideais para uma boa performance, perdendo a capacidade adaptativa que nos trouxe até aqui na evolução humana.